A primeira noite de sua nova vida havia sido tranqüila. Seu pequeno corpo estava exausto e apesar de ter dormindo ao chão do kenel com apenas um fur separando seu corpo do frio piso de madeira, Mariska conseguira descansar. Acordara com os primeiros raios de sol que invadiam o casa pela vidraçaria da janela principal. Despertava de um sono profundo, espreguiçando-se. Erguia-se apoiando nos joelhos, seu corpo ainda doía pelo esforço feito no dia anterior. Ainda ecoavam em sua mente, os gritos desesperados de sua mãe chamando por ela. Seguia até a janela, via os pássaros e o lindo céu azul. Uma lágrima caía em seu rosto, o que mais queria naquele momento era um abraço de sua mãe, ou um afago de seu pai, dizendo-lhe que tudo ficaria bem.
Andava na ponta dos pés até a porta. Em seu caminho, via um tronco de madeira, cortado ao meio, completo com algo que parecia um mingau mal cheiroso. O cheiro de peixe invadia todo o ambiente e fazia com que Mariska levasse a mão à boca instantaneamente. Sentia seu estômago embrulhar e saía correndo para o primeiro andar da casa. Descia as escadas, olhando para todos os lados tentando avistar alguém ali, mas não encontrara ninguém.
O peso da coleira de ferro, a encomodava. Juntava as mãos
tentando puxá-la, mas só machucava seu pescoço. Caminhava os dedos pela extensão da coleira e sentia apenas um pequeno cadeado na nuca. Sentia ódio daquilo e batia as pernas no chão com tamanha irritação. Já não vestia mais o lindo vestido azul dado por seu pai em seu último aniversário, agora um pedaço de pano a cobria.
Saía porta afora a procura da escrava que estivera com ela na noite anterior. Ia caminhando, observando a movimentação. Via alguns mercadores com suas escravas, algumas senhoras cuidando de seus comércios e ao longe via a bond de cabelos castanhos, sentada à beira do rio, lavando algumas peças de roupa. Corria até ela, seus cabelos vermelhos reluziam ainda mais sob a luz do sol. Chegava perto da escrava e cutucava-lhe o ombro. Calesha virava-se e passava a mão nos cabelos de Mariska. * Venha menina, vou dar-lhe de comer, depois tenho afazeres para que cumpras...* A bond levantava-se e seguia até o servery. Mariska tentava acompanhar o passo das longas pernas de Calesha. Gostava de ver a bond andar.
Chegava até o servery, o cheiro de bosk e do pão assando fazia seu estômago roncar. Precisava comer alguma coisa. Corria até o fogo tentando pegar um pedaço da carne, mas logo era interrompida por Calesha com um leve tapa em sua mão *Não. Escravas só comem Gruel, Mariska. Ou, se um Jarl oferecer, a menina come muito devagar com delicadeza, como se fosse o último pedaço de comida de Gor *. A menina abaixa a cabeça e passando a mão na barriga, chora. *Eu estou com fome*. Em seguida, Calesha vai até a vasilha onde está o mingau dos escravos e pega um pouco, colocando em um pote de cerâmica. Entrega à Mariska, que franze a testa e balança a cabeça em sinal de negação. *Ou a menina come o mingau, ou fica sem comer* disse a First rispidamente. Prontamente, Mariska pega o pote e começa a comer o mingau com as mãos. O gosto do peixe a fazia passar mal, quase vomitar. Comia tudo com desgosto pois não a agradava. Ao terminar, fazia uma cara feia e dava de costas para a bond. *A menina tem muito o que aprender ainda. Venha, tenho alguns serviços para você.*
Mariska seguia a bond. Não era acostumada a fazer os serviços de escrava e não gostava nada da idéia. Chegava até um pequeno galpão próximo ao cais. Maravilhava-se com a vista de um grande navio aportado. Voltava a atenção para a First. *A menina vai recolher o mel para levar para o servery*. Ouvia as intruções de Calesha e começava a recolher o mel. Adorava mel, sempre gostara de doces. Seu pai costumava dar-lhe caramelos e chocolates sempre que retornava de suas viagens. Terminava o serviço e seguia até o servery, levando os potes de mel para que a First pudesse guardar. Ao fazer seu primeiro chore, sentia que aquele seria seu destino e nada poderia fazer no momento. Olhava para a First, atarefada em meio a seus afazeres, e o gosto com o que ela os realizava. Aprenderia tudo que pudesse com ela. Calesha olhava para Mariska observando-a *Olhe tudo com atenção menina, em breve você precisará saber fazer de tudo. Agora você é uma bond, uma pequena bond* sorria. A menina sentava-se ao lado da entrada do servery, olhando as montanhas, pensando em sua vila e aguardando o que pudesse acontecer.