sexta-feira, agosto 27, 2010

O Nascimento de Mariska

A primeira noite de sua nova vida havia sido tranqüila. Seu pequeno corpo estava exausto e apesar de ter dormindo ao chão do kenel com apenas um fur separando seu corpo do frio piso de madeira, Mariska conseguira descansar. Acordara com os primeiros raios de sol que invadiam o casa pela vidraçaria da janela principal. Despertava de um sono profundo, espreguiçando-se. Erguia-se apoiando nos joelhos, seu corpo ainda doía pelo esforço feito no dia anterior. Ainda ecoavam em sua mente, os gritos desesperados de sua mãe chamando por ela. Seguia até a janela, via os pássaros e o lindo céu azul. Uma lágrima caía em seu rosto, o que mais queria naquele momento era um abraço de sua mãe, ou um afago de seu pai, dizendo-lhe que tudo ficaria bem.

Andava na ponta dos pés até a porta. Em seu caminho, via um tronco de madeira, cortado ao meio, completo com algo que parecia um mingau mal cheiroso. O cheiro de peixe invadia todo o ambiente e fazia com que Mariska levasse a mão à boca instantaneamente. Sentia seu estômago embrulhar e saía correndo para o primeiro andar da casa. Descia as escadas, olhando para todos os lados tentando avistar alguém ali, mas não encontrara ninguém. 

O peso da coleira de ferro, a encomodava. Juntava as mãos
tentando puxá-la, mas só machucava seu pescoço. Caminhava os dedos pela extensão da coleira e sentia apenas um pequeno cadeado na nuca. Sentia ódio daquilo e batia as pernas no chão com tamanha irritação. Já não vestia mais o lindo vestido azul dado por seu pai em seu último aniversário, agora um pedaço de pano a cobria. 

Saía porta afora a procura da escrava que estivera com ela na noite anterior. Ia caminhando, observando a movimentação. Via alguns mercadores com suas escravas, algumas senhoras cuidando de seus comércios e ao longe via a bond de cabelos castanhos, sentada à beira do rio, lavando algumas peças de roupa. Corria até ela, seus cabelos vermelhos reluziam ainda mais sob a luz do sol. Chegava perto da escrava e cutucava-lhe o ombro. Calesha virava-se e passava a mão nos cabelos de Mariska. * Venha menina, vou dar-lhe de comer, depois tenho afazeres para que cumpras...* A bond levantava-se e seguia até o servery. Mariska tentava acompanhar o passo das longas pernas de Calesha. Gostava de ver a bond andar. 

Chegava até o servery, o cheiro de bosk e do pão assando fazia seu estômago roncar. Precisava comer alguma coisa. Corria até o fogo tentando pegar um pedaço da carne, mas logo era interrompida por Calesha com um leve tapa em sua mão *Não. Escravas só comem Gruel, Mariska. Ou, se um Jarl oferecer, a menina come muito devagar com delicadeza, como se fosse o último pedaço de comida de Gor *. A menina abaixa a cabeça e passando a mão na barriga, chora. *Eu estou com fome*. Em seguida, Calesha vai até a vasilha onde está o mingau dos escravos e pega um pouco, colocando em um pote de cerâmica. Entrega à Mariska, que franze a testa e balança a cabeça em sinal de negação. *Ou a menina come o mingau, ou fica sem comer* disse a First rispidamente. Prontamente, Mariska pega o pote e começa a comer o mingau com as mãos. O gosto do peixe a fazia passar mal, quase vomitar. Comia tudo com desgosto pois não a agradava. Ao terminar, fazia uma cara feia e dava de costas para a bond. *A menina tem muito o que aprender ainda. Venha, tenho alguns serviços para você.*

Mariska seguia a bond. Não era acostumada a fazer os serviços de escrava e não gostava nada da idéia. Chegava até um pequeno galpão próximo ao cais. Maravilhava-se com a vista de um grande navio aportado. Voltava a atenção para a First. *A menina vai recolher o mel para levar para o servery*. Ouvia as intruções de Calesha e começava a recolher o mel. Adorava mel, sempre gostara de doces. Seu pai costumava dar-lhe caramelos e chocolates sempre que retornava de suas viagens. Terminava o serviço e seguia até o servery, levando os potes de mel para que a First pudesse guardar. Ao fazer seu primeiro chore, sentia que aquele seria seu destino e nada poderia fazer no momento. Olhava para a First, atarefada em meio a seus afazeres, e o gosto com o que ela os realizava. Aprenderia tudo que pudesse com ela. Calesha olhava para Mariska observando-a *Olhe tudo com atenção menina, em breve você precisará saber fazer de tudo. Agora você é uma bond, uma pequena bond* sorria. A menina sentava-se ao lado da entrada do servery, olhando as montanhas, pensando em sua vila e aguardando o que pudesse acontecer.

Um Relâmpago de Máscara


 Era inverno. Os pequenos vilarejos espalhados ao norte tinham trabalhado mais na sua produção para aguentarem os ventos frios e a neve que caia. Os caminhos de acessos ao pequeno povoado de Mirtrandir estavam quase fechados. A avalanche da noite anterior derrubava grande parte da neve sobre a trilha. Os homens do vilarejo trabalhavam insistentes para a remoção dos blocos de neve antes que o Jarl da vila pudesse retornar com alguns homens. Sersi estava ali parada diante da porta. Olhava para um lado e outro com as mãos sobre o longo vestido de mulher livre. Procurando pela pequena Anduriel. Estreitava os olhos em busca dos cachinhos vermelhos como fogo que ela herdara da mãe. Sorria pensando que a pequena herdava dela apenas o cabelo, pois era espoleta e inquieta como o pai. Daria trabalho. Saía de casa caminhando pela pequena praça espremendo os próprios braços por conta do frio. * ANDURIEL! * Gritava pela pequena por todos os cantos. Mas não tinha sucesso. Perguntava a um e a outro se tinham visto a pequena, mas a resposta era sempre a mesma* ANDURIEL! Quando seu pai retornar de viagem ele vai te castigar menina! Onde você esta?!


Anduriel adorava a neve e brincar com ela era um de seus passatempos favoritos. Passava tardes a fio correndo pela vila com as outras crianças. Sempre arrumando encrencas e confusões. Parecia-se muito com seu pai, inquieta e desajeitada. Estava perto da horta, que por hora estava coberta com uma fina camada de gelo, quando ouvira sua mãe gritar seu nome. * Mas eu ainda não acabei... * resmungava batendo os pés no chão. Fazia uma cara emburrada enquanto voltava lentamente, quase se arrastando, para casa. Via a mãe parada em frente à porta, com uma expressão brava e logo amolecia. * Já cheguei, não precisa ficar gritando...* Cruzava os braços e ia porta adentro.


Fora tudo muito rápido. A imagem da mãe de Anduriel parada em meio à praça. Os olhos dela que se espantavam e abriam-se arregalados quando os gritos de guerra eram ouvidos. Quando o som dos metais se chocando se faziam escutar. A gritaria e correria na vila que ela podia perceber com seus pequenos olhinhos.* Ataque! Ataque! * Algumas das bonds do povoado gritavam correndo para dentro da taberna, tentando inutilmente fechar as portas. Homens buscavam suas armas e era aos pés de Anduriel que uma das cabeças rolava. Ela podia ver o enorme Thalarion do guerreiro com capacete de metal. Um capacete na forma de máscara bárbara e longos chifres. O homem a olhava. Os olhos verdes e frios por trás da mascara desviavam dela para seguirem para dentro da vila. Ele gritava, parecia tomado pela febre de Odin. O Machado ensanguentado era erguido e girado no ar, seu grito misturava-se ao grito dos Thalarions. As mulheres corriam e eram derrubadas. Tinham os braços e pernas amarradas enquanto os homens da vila lutavam bravamente. Tentavam a todo custo salvar o pouco que tinham. E a pequena estava ali, entre o trotar dos Thalarions, entre os gritos de guerra dos homens, entre os corpos daqueles que conheciam que iam caindo ao chão sem vida, um a um.



Anduriel se desesperava ao ver as cabeças rolando e o sangue de seus conhecidos sendo derramado sem piedade. Os machados reluziam e os gritos a ensurdeciam. Corria para todos os lados procurando um lugar onde pudesse esconder-se dos inimigos. Podia ouvir o grito horrorizado de sua mãe chamando seu nome, mas não conseguia encontrá-la. Seus olhos corriam a multidão e as lágrimas tomavam conta de seu rosto. No meio da confusão, Anduriel conseguira achar um esconderijo, um barril de mead destampado e cheio pela metade. Olhando para trás, entrou no barril e lá ficou rezando à Odin que a salvasse e que nenhum mal a acontecesse. Chamava por seu pai, tudo que desejava naquele momento é que ele enfim retornasse a vila para ver tamanha destruição.


Os gritos iam cessando pouco a pouco. Os homens invasores pilhavam as casas, roubavam tecidos, alimentos, animais. Bebiam das bebidas da taberna, bolinando as mulheres. O circulo era feito no chão com o machado e as mulheres eram colocadas dentro dele. Uma a uma eram obrigadas a aceitar sua condição de escrava. Mulheres livres que se viam acorrentadas. Algumas não aceitavam, relutavam e recebiam a mão forte do líder do grupo contra o rosto. Sersi era obrigada a se ajoelhar. Os olhos da mulher ainda procuravam pela filha buscando pela segurança dela. Negava-se a manter-se de joelhos. Negava-se a submeter-se a coleira. Apanhava até que enfim caia sob os pés do homem. Algumas das mulheres que não aceitavam tinham a cabeça degolada na mesma hora. Forçando as outras a mudar de ideia. Alguns homens eram despidos e amarrados como escravos, como acontecia com as mulheres e crianças. Todos eram amarrados em fila amarrados ao vagão. Os mantimentos e tecidos, o dinheiro da vila era jogado dentro do veiculo. Os homens gritavam, batiam nos escudos vitoriosos. O fogo era tocado na vila. A madeira cedia fácil às labaredas das tochas e flechas. A pequena Anduriel podia ver seu sonho infantil ceder pouco a pouco ante as chamas daqueles homens. Corpos que eram queimados diante do incêndio. O barril que carregava a pequena Anduriel era posto sobre a carroça. Saiam dali seguindo de volta ao acampamento, sendo recebidos por mais alguns homens que permaneceram de vigília. Puxavam as mulheres jogando-as no chão. Bolinavam, as mãos percorriam os corpos delicados e nus das livres assustadas. Sersi rogava a Odin que sua pequena estivesse em segurança longe dos bárbaros. Mas suas orações caiam por terra quando o grito de um dos homens podia ser escutado* FIRST! Olhe o que temos aqui! Uma ratinha e pelo visto já bebeu meio barril! *os homens riam e o homem de mascara metálica se aproximava*  


Anduriel tremia de medo ao perceber que os homens encontraram seu esconderijo. Por uma pequena fresta no casco do barril via sua mãe amada sendo encoleirada por aqueles bárbaros. Sua vila, sua casa, agora estava totalmente destruída. Desde que nascera morava ali e suas raízes agora ardiam nas chamas daqueles monstros. Chorava baixo, apertando os olhos para que não a percebessem. O cheiro da bebida a trazia náuseas. Ao perceber que a carroça parara de se movimentar, Anduriel prende a respiração e fica completamente parada. De repente, sente uma mão pesada a puxar pelos cabelos e grita com a dor. *Me solta, me larga!* grita chutando o ar sem conseguir alcançar o homem.


O guerreiro que a segurava ria da pequena se debater daquele jeito. * Aquiete-se sua sleen. Filhote de pantera. *Os homens riam e o que parecia ser o líder entre eles segurava o rosto da menina que se debatia. Os olhos verdes intensos buscavam os dela. Apertava o queixo da pequena forçando-a a abrir aboca. Sersi ousava erguer-se. Ao ver a filha na mão dos bárbaros levantava-se e partia para cima do homem de mascara despejando tapas e xingamentos para ele. A mão do homem virava-se com tudo sobre ela. Jogavam a mulher no chão. * Amarre a criança e coloque junto às outras. Vamos leva-la também. Espero só que ela não tenha mijado no mead. *os homens riam e a mulher ainda tentava se erguer. A boca suja de sangue e a dor do tapa. A mulher era erguida pelos cabelos e atirada aos homens que a seguravam, tocavam o seio, beijavam com o hálito de bebida. A mulher debatia-se. Tentava escapar e apenas apanhava mais. Era usada ali mesmo, diante da fogueira. Em meio aos outros, em meio aos seus conhecidos. E o mesmo se repetia entre as outras mulheres. Os homens as usavam, com exceção de um homem ruivo de rosto pintado de guerra e o líder que ainda ostentava sua mascara metálica. Os gritos da mãe de Anduriel iam sendo vencidos pouco a pouco pelo cansaço da derrota. A mulher deixava-se usar. Já não tinha mais forças depois do quarto homem que a possuía. A noite passara assim. Entre os gemidos dos guerreiros e os gritos das mulheres. Pela manhã, os homens organizavam a caravana. A fogueira era apagada e eles seguiam viagem. Contavam vantagens sobre a destruição da vila até chegarem ao vilarejo de Laura. Os escravos eram encaminhados para o palanque. Expostos como pedaços de carnes. Avaliados por prováveis compradores.*.


Os brilhantes olhos verdes de Anduriel agora estavam praticamente apagados. Seu olhar ficava vidrado em algum ponto do nada e ela parecia estar vegetando. Uma simples criança que acabara de passar por um choque enorme. Ver sua mãe ser espancada e usada na sua frente fez com que ela sentisse muita raiva de todos aqueles homens. Chorava sem parar, era a única emoção que conseguira expressar desde que eles a acharam. Observava a movimentação dos homens. Homens e mulheres expostos à venda, e ela seria um deles. Lembrava-se da relva verde que cercava sua vila, os afagos de seu pai. *Paizinho, onde está você?* pensava. Virava sua atenção para o mascarado que continuara sentado em frente à fogueira e em seguida para o home de cabelos vermelhos. Tentava pensar em algo que pudesse fazer para ajudar sua mãe, mas não havia o que fazer, era pequena, fraca e a única coisa que poderia fazer era ceder às ordens dos homens.




Um a um os escravos eram vendidos rendendo ao grupo de saqueadores uma boa quantia de moedas. A última peça da venda de escravos era a pequena menina de cabelos rubros. Os homens não acreditavam que fossem conseguir se desfazer dela, já iam recolher a pequena quando a voz de um homem se fez ouvir na multidão.* Um saco de sal por ela... *era um preço alto a pagar por uma escrava que levaria alguns anos até que pudesse servir bem* Os olhos do homem ruivo se viravam para a voz do homem de roupas verdes que surgia. Com cabelos negros presos num rabo de cavalo. O homem aproximava-se. Olhava dentes, cabelos, olhos e língua da pequena Anduriel. Verificava se a pequena possuía alguma doença visível. Parecia saudável. O preço era ajustado. Os homens tomavam a saca de sal e seguiam viagem. O leash de Anduriel era entregue ao homem de sorriso no rosto. Ele a amarrava ao Thalarion quando seguia ela fazia todo o trajeto até a sua vila a pé. O homem irrompia o Kennel levando a pequenina Anduriel pelo leash até o Slaver.* Eric, eu trouxe algumas novas aquisições que fiz em Laura. Tome... Preciso de alguns homens para descarregar os vagões. *O Slaver tomava para si o leash olhando a menina. Fazia novamente a mesma verificação do Jarl da vila... Verificava dentes, olhos, boca. Então a levava até a First que estava organizando as peles no kennel* Calesha, tome... Cuide para que ela aprenda tudo que deve aprender e principalmente não fique pelo caminho dos outros para não ser esmagada.. *segurava o rosto da pequena e com um sorriso* Qual o seu nome menina?


Via as pessoas de sua vila ser vendida e se desesperava, sua mãe era a próxima da fila. Chorava ainda mais, e nada podia fazer. Esticava os braços tentando alcançar sua mãe, mas não conseguia aquela última imagem de sua amada mãe ficaria gravada para o resto da sua vida em sua mente. Esperava sua vez, e nada acontecera. Os homens estavam prontos para leva-la consigo quando de repente uma voz entoa ao fundo. Alguém a queria. Anduriel não sabia se chorava pelo fato de estar sendo encoleirada ou se ria por estar longe de homens tão cruéis. Olhava para seu novo dono, um homem alto de cabelos negros. Sua voz era firme e a fazia tremer. Era presa pela coleira ao Thalarion, mal consegui acompanhar o passo com suas pequenas pernas. Respirava fundo, sem ar de tanto que já havia andado. Chegara em uma nova vila cercada por árvores e montanhas. O cheiro de comida invadia o lugar e seu estômago fazia um enorme barulho. Olhava para todos os lados tentando encontrar mais alguém e nada via. Seguia até um lugar estranho a seus olhos. Viam-se gaiolas para todos os lados e objetos de tortura. Era entregue a um segundo homem. Tentava evitar o toque dele. Em seguida, via uma mulher, outra escrava e cabisbaixa respondeu * Me chamo Anduriel *.


O Slaver a olhava... Anduriel parecia um nome daqueles seres estranhos que se contava nos livros de historia para crianças. Meneava a cabeça afastando-se da pequena, fazia um afago nos cabelos dela e entregava um caramelo* tome... Mas não gosto do seu nome... Não parece nome de gente... Vai se chamar Mariska a partir de agora. * A menina era bonita e se crescesse com saúde ia render bastante para a vila. Entregava-a aos cuidados de Calesha e saia do kennel. A pequenina podia ter a visão da vila, pelas janelas daquela casa. Das montanhas com neve que circulavam... Do ir e vir das pessoas... Mjollnir Valley era agora seu novo lar.